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Mesmo reconhecendo que a pandemia não acabou, Boris Johnson anuncia fim de medidas de restrição na Inglaterra

Premier Boris Johnson, durante entrevista coletiva em Londres (POOL / REUTERS)
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A partir do dia 19, não será mais necessário usar máscaras ou manter um metro de distância no país; impulsionados pela variante Delta, casos aumentaram 146% nas últimas duas semanas

Todas as medidas de restrição para conter a Covid-19 serão suspensas na Inglaterra no próximo dia 19, anunciou o premier Boris Johnson nesta segunda, traçando a última etapa do desconfinamento britânico após 16 meses de limitações. O alívio, que alguns especialistas temem ser precipitado e excessivo, coincide com um aumento de 146% nos novos diagnósticos no país, impulsionado pela variante Delta, cerca de 60% mais contagiosa.

A decisão sobre o desconfinamento será confirmada no dia 12, mas não há qualquer indício de que o governo voltará atrás: daqui a duas semanas, salvo uma reviravolta brusca, não será mais obrigatório usar máscaras ou manter um metro de distância, por exemplo. Boates e teatros poderão reabrir, e a recomendação para o trabalho remoto será abolida, assim como os limites para aglomerações.

O próprio premier reconhece que a pandemia está longe do fim e começou a entrevista coletiva com o alerta de que os novos casos podem duplicar nas próximas duas semanas, chegando a 50 mil por dia, e que será necessário se “reconciliar com mais mortes”. Ainda assim, ele disse crer que a campanha de vacinação britânica já está suficientemente avançada e deve continuar a evitar uma piora drástica das internações e dos óbitos.

— A pandemia está longe de terminar e, certamente, não acabará até o dia 19 — disse Boris, afirmando que é hora de “aprender a viver” com o vírus. — No entanto, deveremos ser honestos com nós mesmos. Se não reabrirmos nossa sociedade nas próximas semanas, quando seremos ajudados pela chegada do verão e pelas férias escolares, então quando poderemos voltar ao normal?

 

Casos aumentam, mas mortes continuam baixas no Reino Unido

Média móvel de casos e mortes por Covid-19

(Flourish team)

Quase metade dos britânicos já receberam as duas doses

% da população vacinada contra a Covid-19 no Reino Unido

(Flourish team)

O alívio vale apenas para a Inglaterra, que concentra 55 milhões dos 66 milhões de habitantes do Reino Unido, já que Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte estabelecem seus próprios cronogramas de restrições.

Como um todo, o país já aplicou ao menos um dose em 66,7% de seus habitantes. Quase metade da população já recebeu as duas doses — uma das maiores taxas do planeta e a segunda maior do continente europeu, atrás apenas de Malta. O plano é que, nas próximas duas semanas, todos os adultos já estejam aptos para se vacinar e ao menos dois terços tenham tomado as duas doses.

— Eu não quero que as pessoas achem que este é o momento para ficarem eufóricas. Estamos muito longe de não precisarmos mais lidar com o vírus — alertou  Boris, afirmando que diretrizes futuras sobre regras mais brandas para viagens ao exterior e diretrizes para a volta às aulas deverão ser anunciadas ao longo da semana.

 

Terceira dose em setembro

O passo derradeiro do desconfinamento estava previsto para o dia 21 de junho, mas foi adiado diante do crescimento dos casos no país. O Reino Unido registra hoje uma média de 24,5 mil diagnósticos diários, mas as mortes e internações não crescem na mesma proporção: o coronavírus mata em média 17 britânicos por dia. A grande maioria dos internados, disse Boris, continua a ser de pessoas não vacinadas.

As vacinas usadas no país são eficientes contra a variante Delta: segundo uma pesquisa preliminar divulgada em junho pelo sistema de saúde inglês, as duas doses da Pfizer-BioNTech evitam internações em 96% dos casos, e as duas injeções da Universidade de Oxford-AstraZeneca, em 92% dos pacientes.

Uma injeção única, no entanto, teria apenas 33% de eficácia para conter novas infecções, o que levou o governo a acelerar a aplicação da segunda dose. No último dia 14, foi reduzido o intervalo entre a primeira e a segunda dose de 12 para oito semanas para todos com mais de 40 anos. Nesta segunda-feira, o governo anunciou que o mesmo valerá para as faixas etárias inferiores.

Em paralelo, Boris confirmou que o governo aplicará doses de reforço em todos com mais de 50 anos ou com comorbidades a partir de setembro, na antecipação dos meses de outono e inverno. Não se sabe ao certo por quanto tempo as doses anti-Covid conferem imunidade, mas a discussão sobre o reforço ganha cada vez mais intensidade diante de pesquisas que mostram sua eficácia.

Críticos, contudo, apontam que isso pode atrasar ainda mais a campanha de vacinação nos países mais pobres do planeta, adiando ainda mais o fim da pandemia.

— Queremos estar na linha de frente das doses de reforço contra a Covid-19 para reduzir ao máximo possível a probabilidade de perda de proteção devido ao enfraquecimento da imunidade ou de novas variantes — disse Jonathan Van-Than, vice-chefe médico da Inglaterra na semana passada.

 

Decisão precipitada?

Antes mesmo de Boris anunciar os detalhes do desconfinamento, especialistas e grupos sindicais já demonstravam temores de que a iniciativa do governo fosse demasiadamente leniente. Apenas algumas poucas restrições permanecerão em vigor, como a obrigatoriedade do autoisolamento para quem testar positivo e o uso de máscaras nos postos de entrada no país.

Ao Financial Times, Stephen Webb, presidente da Sociedade de Tratamento Intensivo, disse temer que a ênfase do governo na responsabilidade da população possa causar certo descaso. A seu ver, é necessário manter um nível de alerta, e que o governo sinalize às pessoas que a “Covid ainda é muito infecciosa e mortal”. Já Katherine Henderson, presidente da Faculdade Real de Medicina de Emergência, disse que o plano do governo demonstra um nível excessivo de “triunfalismo”.

— Se o governo ceder completamente a responsabilidade, nós teremos problemas — afirmou à rádio BBC Stephen Reicher, um dos conselheiros científicos do governo. — Para que as pessoas ajam com responsabilidade, a informação é crítica, mas os recursos também (…). Meu medo é que, quando o governo te diz para agir com responsabilidade, pode parecer que está dizendo que não levará a responsabilidade dele a sério.

Já o sindicado Unite, que reúne 1,4 milhão de funcionários do setor de transportes, emitiu um apelo para que o governo repense o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes públicos. Segundo o grupo, a decisão oficial é “absolutamente ridícula” e um “grande ato de negligência”. Também em entrevista à BBC, um representante do sindicato da Associação Médica Britânica concordou:

— Não faz sentido parar de usar máscaras em ambientes públicos fechados, como no transporte público — afirmou Chaand Nagpaul, o presidente do órgão. — E, no que diz respeito à “escolha pessoal”, lembrem-se de que o uso de máscaras em público não protege predominantemente quem a usa, mas aqueles ao seu redor.

O líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, também criticou a decisão. Para ele, algumas medidas legais, como a obrigatoriedade das máscaras no transporte público, deveriam ser mantidas.

— É irresponsável simplesmente descartar todas as proteções quando a taxa de infecção está subindo — afirmou.

Fonte: O Globo

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